domingo, 29 de agosto de 2010

" Há uma porção de coisas minhas que você não sabe, e que precisaria saber para compreender todas às vezes que fugi de você."

Ruídos de passos vazios, um nada. Despediram-se. Ela baixou a cabeça e seguiu seu caminho. Sua mente guardava o calor do abraço que poderia ser último, do cheiro do cabelo castanho escuro dele, e da fotografia dos olhares de ambos quando tiveram que dizer: “até qualquer dia...”

Atitudes forçadas, necessárias, e o medo das surpresas de um futuro próximo. Não era possível deixar se entranhar um no outro. Mas seria possível partir por inteiro?

- Passos lentos rumo a lugar qualquer, mãos no bolso, um canto de indiferença nos lábios... e sem olhar pra trás. Ele deixou metade de si com ela, e essa metade era um inteiro de peso incomensurável que ela não sabia se suportaria corregar. O abraço apertado que quase fez seu coração parar, congelou os olhos escuros dela numa sensação de culpa e solidariedade.


* Numa noite fria, ouvindo o barulho do mar... pés na areia molhada e coração na mão.




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terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sobre o ciúme

“Porque eu tenho pesadelos que parecem tão reais até quando você me abraça. E eu acordo triste, e brigo de verdade e passo o dia grave e dolorida como quando a gente leva um tombo no piso liso…que é só o passado. É como se eu sentisse um ciúme horroroso do meu livro predileto comprado em sebo, a dedicatória apaixonada que não é a minha, os resquícios do manuseio de outras mãos. Alguém corrompeu o trecho que eu mais gostava quando grifou à caneta algo que não pude apagar com borracha e que era tão secretamente meu. Desenhou corações onde só havia minha dor e eu discordei da interpretação alheia. E achei aquilo tudo de uma crueldade atroz. Mas permaneci com o livro no colo, cheia de um afeto confuso por ele: afeto pelo que era, angústia por já ter sido de outro alguém, e aquela sensação (imbecil) de falta de exclusividade. Eu que sempre achei que tudo é e está para o mundo.Perdoa o meu senso de autoimportância, já que não consigo perdoar o meu egoísmo.Eu sei que em alguns presentes, no embrulho, laços do passado são aproveitados. Eu só queria que eles não fossem tão vermelhos: desses que doem nos olhos e no coração.”