quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Delírios de uma Flor de Estufa





Se aproximava quase que diariamente do espelho, envergonhada, olhava pra si e não via o que desejava, a beleza que não se mostra destruia a oportunidade que ela tinha de ser o que é. Os cabelos negros caiam sobre os seus ombros de forma pura e delicada.As sobrancelhas bem delineadas , as vezes lhe dão um ar de maturidade, mas na verdade, ela não passa dos vinte. Aproximava-se cada vez mais do espelho... as mãos apoiadas na parede, talvez fosse um breve delí­rio. Era o desejo de si mesma que a consumia. Sem querer esbarrou no interruptor e a luz cessou. Agora, ela se percebia na penumbra de um quarto vazio e escuro...


Demorou-se no vão da porta do seu quarto, a casa aparentemente silenciosa permitia-lhe ouvir seus próprios pensamentos e angústuias de de forma bem clara e viva...ouvia o alarme do telefone tocar e seus monstros internos gritavam chamando pelo seu nome. Não atendeu o telefone, apenas o desligou... a empregada achou tudo muito estranho, mas ela não se importava. Deixe-me ficar! era apenas o que ela tentava pedir. O vento sussurra em seus ouvidos, abraçava o seu corpo... e ela percebeu que o seu jardim é de flores de papel... papel escuro, molhados, manchados, sujo... Percebeu que mentiu sobre si mesma durante toda a vida...


Estava fora do alcande de si mesma. Vivia num mundo onde tudo era caos.

O pesadelo: ela construi seu próprio mundo para fugir dele...o som do seu próprio grito a sufocava...Não consiguia cessar o medo das noites silenciosas em que seus monstros a visitavam.

O espelho que vai do teto ao chão da parede de sua casa não permitia que ela se escondesse de si mesma . As meias desfiadas pelas unhas quebradas, amarelas, frias e mortas a deixavam mais feia que de costume. Tentou melhorar a aparencia mas não conseguiu; maquiagem preta completamente borrada, os cabelos desarrumados.

Sentia-se não apenas uma perdedora. Sentia que desde sempre foi uma perdedora, e o pior uma perdedora covarde demais, que nunca havia reconhecido sua própria derrota.

Sentia-se como uma flor de estufa, onde sua eterna vida, é uma eterna morte...

2 comentários:

pianistaboxeador21 disse...

Lindo!!! Lembra Mário de Sá-Carneiro "perdi-me dentro de mim, porque eu era labirinto".
Critica bem um mundo onde as aparências são o que há.

Abraço,
Daniel.

Marcia Barbieri disse...

Lindo texto Laís: "e ela percebeu que o seu jardim é de flores de papel... papel escuro, molhados, manchados, sujo...". Adorei.
Beijos
Marcia